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Entenda a morte de Eduardo Campos

João Pinheiro + fontes
A morte do ex-governador pernambucano e candidato à presidência Eduardo Campos surpreendeu e comoveu todos, principalmente pelo fato de ser um acidente ainda sem respostas. Então o Curioso e Cia. reuniu alguns dos melhores textos da internet para você entender o que aconteceu.


Nesta quarta-feira, 13 de agosto, o acidente aéreo na cidade de Santos (SP) deixou dez feridos e tirou a vida dos sete tripulantes de um avião Cessna 560XL, incluindo o candidato à presidência Eduardo Campos. Ele tinha 49 anos e estava em terceiro lugar na corrida eleitoral, com 8% das intenções de voto segundo o Datafolha.

O acidente aconteceu depois que o piloto arremeteu o aviãoou seja, desistiu do pouso — devido ao mau tempo. O Cessna vinha do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e deveria pousar no Guarujá (SP), mas a visibilidade estava muito prejudicada. No entanto, algo deu errado e, a 4 km do aeroporto, a aeronave caiu.

O caso gerou muitas dúvidas e até teorias da conspiração. Mas enquanto apenas começam as investigações, já temos alguns fatos para entender melhor o que aconteceu.

Aviões pequenos


Antes de tudo, vale lembrar que acidentes aéreos são terrivelmente comuns com aviões pequenos. Segundo a Anac [Agência Nacional de Aviação Civil], 159 aeronaves sofreram acidentes no Brasil durante o ano passado — e 158 delas eram pequenas, voltadas para transporte privado ou instrução.

Recentemente, pelo menos três aeronaves pequenas sofreram acidentes. Na semana passada, um avião caiu matando seus cinco tripulantes em Balsas (MA). No fim de julho, um avião fez pouso forçado no interior do Paraná, deixando um ferido; e um avião experimental caiu no oeste da Bahia, deixando dois feridos. [Para uma lista com acidentes e incidentes aéreos no Brasil, visite este site.]

A arremetida


O jatinho saiu do Rio às 9h30 com destino à Base Aérea no Guarujá. Segundo a FAB [Força Aérea Brasileira], por volta das 9h50, o piloto disse que tinha pouca visibilidade para pousar e arremeteu. Uma gravação mostra um dos pilotos avisando, em voz calma, que faria o procedimentoo áudio está disponível no Radar Box Brasil. Logo depois, a torre de comando perdeu contato com o avião.

Em nota, a Aeronáutica diz que a aeronave arremeteu devido ao mau tempo quando se preparava para pouso. Chovia e ventava no momento do acidente. Acredita-se que o jatinho sofreu com fortes “ventos de través” [laterais ao avião] ou ventos de cauda [traseiros ao avião]. Paulo Greco Júnior, professor de engenharia aeronáutica na USP São Carlos, diz ao UOL que “essa condição de vento de través é muito crítica e obriga o piloto a arremeter.

Além disso, segundo o Estadão, a visibilidade chegou a ficar em apenas 800 pés [cerca de 260 metros] na região da base aérea. Para o avião descer naquela pista, o procedimento de pouso deve ser iniciado a 4 mil pés [cerca de 1.200 m] de altitude. A partir dos 700 pés [233 m], caso o piloto não consiga ver a pista, a ordem é arremeter. Não é recomendável fazer o pouso “às cegas”, só com instrumentos: é preciso ter uma referência visual com a pista para ter certeza que a aeronave está estabilizada — ou pode acontecer um desastre.

O acidente


O piloto fez a arremetida para o lado esquerdo, de acordo com as normas da pista. Ao sobrevoar Santos, o procedimento já estava finalizado.

No entanto, o problema que levou a aeronave a perder altitude e cair ainda não foi explicado.

— Foto por Rafael Oliveira Augusto/Facebook

Testemunhas dizem que o avião estava em chamas antes de cair. Georges Ferreira, aviador e professor de Direito Aeronáutico, diz ao Zero Hora que uma turbina do jato teria pegado fogo.

Alguns colegas que estavam no aeroporto do Guarujá viram a cena e avisaram por e-mail. “Há a possibilidade de a aeronave ter atingido um pássaro e, depois, perdido uma turbina, diz Ferreira. Anac e Cenipa ainda não divulgaram nenhuma informação sobre as causas da queda.

Foram sete vítimas: Eduardo Campos, os pilotos Geraldo Cunha e Marcos Martins, o assessor de imprensa Carlos Augusto Leal Filho, o cinegrafista Marcelo Lira, o ex-deputado federal Pedro Valadares Neto e o fotógrafo Alexandre Severo Gomes e Silva.

É seguro arremeter?


Geralmente, sim. No ano passado, um fórum realizado na Europa concluiu que a arremetida “é uma fase normal do voo, e os pilotos devem ser encorajados a arremeter quando as condições assim demandam”. Na verdade, ao desistir do pouso em condições extremas, os pilotos podem salvar diversas vidas.

Como lembra Gustavo Ribeiro, da Gazeta do Povo:

Em 2013, um Boeing 777-200 da Asiana Airlines se chocou contra o solo depois de uma aproximação não estabilizada no aeroporto de San Francisco, nos Estados Unidos. Apenas três pessoas morreram, mas a aeronave teve perda total. A tripulação decidiu arremeter a menos de dois segundos do impacto, muito tarde.
Outro caso desse tipo ocorreu em 1998, quando um Embraer ERJ-145 da Rio-Sul se aproximava do aeroporto Afonso Pena, em Curitiba. A aproximação foi instável e a tripulação não conseguiu acertar a razão de descida ideal (a perda de altitude por minuto) e acabou se chocando com a pista. A força do contato com o solo quebrou a cauda do avião. Por muito pouco 40 pessoas não morreram. Uma arremetida certamente teria evitado esse acidente.

Em 2007, pilotos no voo TAM JJ 3054 não tentaram arremeter o avião ao pousar em Congonhas (SP): eles queriam desacelerar a aeronave até o fim da pista. Resultado: morreram todos os 187 passageiros, mais 12 pessoas no solo. Dois dias depois, outro avião da TAM arremeteu no mesmo aeroporto devido à baixa visibilidade, e pousou com segurança momentos depois:


E este ano, um Boeing 767 fez a arremetida e evitou acidente com um Airbus A340 cruzando a pista. Hildebrando Hoffmann, professor de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS, diz à BBC Brasil que acidentes envolvendo arremetidas de aviões são “atípicos”, e geralmente ocorrem devido à “imperícia” dos pilotos.

Quando o avião está a ponto de aterrissar, encontra-se em uma posição de baixa potência, conhecida como ‘idle’. Se a aeronave precisa arremeter… é necessário ganhar potência novamente, empurrando os manetes, e posteriormente colocando o nariz para cima. Caso isso seja feito de maneira brusca, a aeronave pode perder sustentação e cair.

Após a arremetida, alguns eventos podem fazer o avião cair: tempo ruim [como fortes ventos e chuva]; falha mecânica no avião; e até mesmo a falta de treinamento dos pilotos.

A aeronave


O jatinho que levava Eduardo Campos e sua equipe era um Cessna 560XL, também conhecido como Citation XLS+.

Ele tem duas turbinas e alcance de 3.900 km: ou seja, pode voar de Porto Alegre a Belém, ou de São Paulo para qualquer capital brasileira, sem fazer escalas. Sua velocidade máxima em cruzeiro é de 817 km/h.

A aeronave com 16 m de comprimento e 17,17 m de envergadura [largura de uma asa à outra] é capaz de transportar até nove passageiros, mais os dois pilotos. Sua fuselagem pesa nove toneladas.

O Cessna 560XL possui um sistema anticolisão, que rastreia aeronaves próximas: ele exibe informações sobre o tráfego aéreo nas redondezas que possa representar ameaça de colisão. Além disso, ele conta com freios hidráulicos, aumentando a segurança mesmo em pistas curtas.

Segundo a Anac, o 560XL estava com a documentação e a manutenção em dia. Ela pertence à AF Andrade Empreendimentos e Participações Ltda. No Brasil, a Cessna é representada pela TAM Aviação Executiva.

Respostas rápidas

O que houve no pouso? Segundo a Aeronáutica, quando se preparava para pouso, o avião arremeteu (voltou a subir antes do pouso) devido ao mau tempo. Em seguida, o controle de tráfego aéreo perdeu contato.
O tempo estava desfavorável? As condições de visibilidade, segundo o Inmet, permitiam o pouso. Essas condições são instáveis e podem ser alteradas conforme o piloto se aproxima da pista, segundo especialistas. Cabe ao piloto decidir se a opção mais segura é pousar ou arremeter.
Arremeter é seguro? Especialistas afirmam que o chamado "procedimento de aproximação perdida", conhecido como arremeter, é normal em pousos por instrumentos e uma questão de segurança.
O piloto seguiu corretamente o procedimento de aproximação perdida? A carta de aproximação por instrumentos da Base Aérea de Santos indica que, para arremeter, o piloto deve seguir para a esquerda em curva ascendente, sentido seguido pelo piloto de Campos. Se continuasse reto, iria de encontro à serra.
O que os pilotos disseram antes da queda? Gravação de áudio obtida pelo Jornal Nacional mostra uma conversa entre o piloto Marcos Martins com controladores de voo, aparentando tranquilidade, sobre o procedimento de pouso.
O que dizem as caixas-pretas? Segundo a FAB, a gravação da caixa-preta do avião com prefixo PR-AFA não é do voo de Campos. No jato não havia o Data Recorder, que grava dados do voo.
O avião se incendiou no ar? Testemunhas afirmaram ter visto uma “bola de fogo” caindo do céu, mas somente a investigação da Aeronáutica irá determinar se houve um problema no ar. Segundo especialistas, o depoimento de testemunhas de quedas de avião quase sempre é impreciso.
O que pode ter contribuído para o acidente? Fatores como mau tempo, chuva, vento e baixa visibilidade dificultam as condições de voo e demandam maior atenção do piloto, mas isso não significa que foram a causa. Uma possível pane como causa também só poderá ser determinada pelas investigações.
O piloto pode ter desviado para não atingir áreas movimentadas da cidade? Pelo que restou da aeronave, especialistas creem que ela “bateu voando”, no jargão aeronáutico. Ou seja, teria havido um impacto muito forte, que não indica o padrão de quem tenta um pouso forçado, gradual, que teria arrasado várias casas no entorno do acidente. O avião atingiu apenas uma casa e abriu uma cratera de cerca de três metros no solo.
É possível saber em que posição caiu o avião? Pelo impacto, a aeronave despencou, levando de 15 a 20 segundos para atingir o solo. Um termo que tem sido mencionado é o “estol de asa”, ou seja, a queda pela perda de sustentação ligada ao ângulo do avião, provavelmente com as asas na vertical. Apenas as investigações devem concluir se foi essa a posição da queda.
A fuselagem do avião pode dar pistas sobre o que ocorreu? Apesar de o impacto ter destruído o jato, ainda é possível analisar as peças do avião com perícia especializada, para saber se explodiu no solo, no ar, entre outros.
Pode ter havido pane no motor? Somente as investigações podem determinar se houve esse tipo de falha. Segundo especialistas, o Cessna Citation pode arremeter com um motor apenas, se o outro falhar.
Um pássaro pode ter atingido as turbinas? Há urubus na região, mas, mesmo com pássaros na turbina, seria possível o piloto manter a sustentação da aeronave. Casos como o do piloto da US Airways, que realizou um pouso forçado no rio Hudson, em Nova York, após o avião ter se chocado com um bando de gansos, enfraquecem a hipótese.
Pode ter havido desorientação espacial dos pilotos? Todas as hipóteses ainda estão sendo investigadas. A desorientação espacial ocorre em condições sem visibilidade, em que o piloto é levado a crer que a aeronave está em uma direção pelos instrumentos, mas está em outra. Nesse caso, poderia tomar uma decisão baseada nessa condição psicológica, que poderia ser corrigida pelo segundo piloto. Uma possibilidade seria o piloto, dentro da nuvem, não acreditar que o avião estava indo para a esquerda, e forçar ainda mais a curva, colocando a aeronave em posição de "faca", com as asas na vertical, provocando uma queda brusca.
Os corpos foram localizados? Onze sacos de restos mortais foram recolhidos depois que a cabine do avião foi encontrada pelo Corpo de Bombeiros. Foram encontrados documentos e a carteira de Campos. Como abriu-se uma cratera no local do acidente, as buscas foram feitas com auxílio de retroescavadeiras.
Os corpos foram identificados? Os restos mortais passarão por exames de DNA e de reconhecimento de arcada dentária no IML de São Paulo antes de serem liberados para as famílias.
Quem investiga o caso? A Aeronáutica apura as causas do acidente, e a Polícia Civil de São Paulo instaurou inquérito para investigar hipótese de homicídio culposo [sem intenção].

O caso ainda irá gerar muita controvérsia, pelo fato de o candidato ser o terceiro com maior intenção de voto e uma nova opção para disputar com PT e PSDB o cargo maior do país. Nenhuma hipótese pode ser descartada num acontecimento como esse.

O que o Curioso e Cia. deseja é muita força para a família de Eduardo Campos e dos pilotos Geraldo Cunha e Marcos Martins, do assessor de imprensa Carlos Augusto Leal Filho, do cinegrafista Marcelo Lira, do ex-deputado federal Pedro Valadares Neto e do fotógrafo Alexandre Severo Gomes e Silva.

Fonte: Gizmodo; G1
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